ATA DA DÉCIMA QUINTA SESSÃO ESPECIAL DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 09.12.1993.

 


Aos nove dias do mês de dezembro de ano de mil novecentos e noventa e três reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Quinta Sessão Especial da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às dezessete horas e vinte e se­te minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Pre­sidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Ale­gre ao Senhor Roque Jacoby, conforme Projeto de Lei do Legislativo n° 25/93 (Processo n° 784/93), de autoria do Vereador An­tonio Hohlfeldt. Compuseram a MESA: o Vereador Wilton Araújo, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Roque Jacoby, homenageado; o Senhor João Gilberto Lucas Coelho, Governador do Estado, em exercício; o Senhor Raul Pont, Prefeito Municipal, em exercício; o Senhor Axel Gutmann, Cônsul Geral da Alemanha e o Vereador Antonio Hohlfeldt, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem à execução do Hino Nacional Brasileiro e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, como proponente e em nome das Bancadas do PSDB, PDT, PMDB, PPR, PPS, PC do B e PFL, discorreu sobre a vida do Senhor Roque Jacoby que, vindo do interior de Santa Catarina, iniciou todo um projeto de vida, de trabalho, de profissão e soube ocupar um espaço enor­me em Porto Alegre e no Estado do Rio Grande do Sul, sem per­der as referências básicas do ser humano, e sobretudo, a ética e o respeito pelo próximo. Referiu-se ao homenageado como um homem que centraliza desafios e poder de decisão num país que nunca sabe exatamente o que faz com as suas regras políticas, econômicas, financeiras e de administração, sabendo encontrar o bom senso e o equilíbrio entre interesses diferenciados. Fi­nalizou, dizendo de sua alegria e emoção em homenagear, em nome da Cidade de Porto Alegre, este homem que veio de longe e escolheu esta Cidade-Sorriso para aqui permanecer. O Vereador João Motta, pela Bancada do PT, referiu-se a Henfil que dizia “que não havia cidadania no Brasil enquanto o direito a informação não fosse garantido a todo povo e à sociedade brasileira”. Disse ser,    portanto, impossível falar na informação, na produção cultural, na Feira do Livro, sem falar na existência do Senhor Roque Jacoby, figura conhecida e respeitada, hoje aqui homenageada. Após, o Senhor Presidente registrou as presenças da Senhora Ciça e Rafaela Jacoby, esposa e filha do homenageado; do professor Flávio Loureiro Chaves, representando o Senhor Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; do Senhor Flávio Azevedo, representando o Secretário Municipal da Cultura; do Jornalista Firmino Cardoso, representando a Associação Rio Grandense de Imprensa; do Senhor Flávio Ledur, Presidente do Instituto Estadual do Livro; da professora Jane Bestetti, Coordenadora do Setor do Livro da Secretaria de Educação do Estado; do Frei Rovílio Costa, da Escola Superior de Teologia; do Se­nhor Júlio Zanatta, Presidente da Câmara Riograndense do Li­vro; da Professora Vera Aguiar, do Instituto de Letras da Pontifície Universidade Católica. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem à entrega do Diploma pelo Senhor Raul Pont, Prefeito Municipal, em exercício, e da Medalha por Sua Excelência, ao homenageado. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Raul Pont que disse ser uma satisfação para o Poder Executivo estar solidário com a Câmara Municipal de Porto Alegre e, em nome da população desta Cidade, homenagear a um empresário defensor da cultura, num País onde quase tudo tende ao consumismo fáci1. Em continuidade o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Roque Jacoby que disse estar sensibilizado pela honra e pelo carinho de que foi alvo e externou agradecimentos em seu nome, de sua família e da Câmara Rio Grandense do Livro, com os quais deseja di­vidir este momento de alegria e emoção. Logo após, o Senhor Presidente, agradecendo a presença de todos, e, em especial, àqueles que ajudaram nessa belíssima trajetória e que irão continuar colaborando com a Cidade de Porto Alegre para fazermos dela a melhor das cidades para se viver. Às dezoito horas e dezessete minutos, o Senhor Presidente declarou encerrados os traba­lhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Wilton Araújo e Secretariados pelo Vereador Antonio Hohlfeldt, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Wilton Araújo): Convidamos todos para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: No início da nossa Sessão Solene, vamos conceder a palavra aos oradores que irão representar as suas Bancadas e a Câmara Municipal nesta tarde tão solene e tão importante para a cidade de Porto Alegre.

O primeiro orador será o requerente, Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará pela sua Bancada, o PSDB, pelas Bancadas do PDT, do PMDB, do PPR, do PPS, do PC do B e do PFL.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: (Menciona os componentes da Mesa.) Vejo no Plenário, hoje, dezenas de companheiros, de amigos, que me escuso de mencionar para não deixar ninguém de lado. Mas quero, por questão de representação, em primeiro lugar, saudar e lembrar, aqui, os meus companheiros da direção do PSDB, ao Prof° Flávio Loureiro Chaves, meu professor de tantos anos na UFRGS, representando o Sr. Reitor; companheiro Flávio Ledur, da direção do Instituto Estadual do Livro; Profª Vera Aguiar, representando o Instituto de Letras e especialmente o Pós-Graduação da PUC; companheiro Júlio Zanatta, que sucede ao Roque da Presidência da Câmara do Livro; o Frei Rovílio Costa, sempre uma presença muito querida, por tudo o que o Rovílio significa nesta Cidade, na briga pelo livro, pela cultura.

Citando a estes amigos eu queria citar a todos os que aqui estão nesta tarde.

Temos o hábito de, entre nós, comentar que nós avaliamos a importância do homenageado pela lotação do Plenário. Se assim o é, evidentemente que esta é uma das Sessões mais importantes que a Casa realiza ao longo deste ano, não apenas pela quantidade de pessoas, mas especialmente pela diversidade da representação. Isto mostra exatamente o quanto de atividade e o quanto de segmentos sociais a figura do Roque Jacoby abrange e, portanto, justifica a nossa homenagem.

Eu olho lá no fundo a Profª Jane Bestetti, que coordena a área do livro da Secretaria de Educação do Estado, e não lembro mais há quanto tempo conheço a Jane. Fico pensando, tentando lembrar a quantos anos conheço o Roque. Imagino também o desafio que deve ter sido, um menino do interior de Santa Catarina deixar sua cidade natal, iniciar todo um projeto de vida, de trabalho, de profissão, em cidades maiores, chegar em Porto Alegre, encontrar-se com companheiros, editores, liderados sempre por esta figura extraordinária que foi a do Maurício Rosemblat, que assumiram ao longo de anos a tarefa de presidir a Câmara Rio-Grandense do Livro, além de todas as empresas por que responde, muito especialmente a Mercado Aberto.

Fazer, por incrível que pareça, com que a nossa Feira do Livro conseguisse ainda mais brilho, maior destaque do que naquele tempo do Maurício. Se não houvesse mais nada a dizer, eu acho que esta síntese justificaria essa homenagem da tarde de hoje. Em poucos anos, bem ou mal, e eu diria, sobretudo, bem, o Roque soube ocupar um espaço enorme na cidade de Porto Alegre e no Estado do Rio Grande do Sul. É o empresário bem sucedido, sem dúvida alguma, mas é, sobretudo, a pessoa que em nenhum momento perdeu referências básicas do ser humano. Eu quero me referir a uma, pela qual todos nós, neste momento, estamos lutando muito e que se chama ética. Poucas vezes a gente consegue encontrar com coerência e permanência esta prática, num homem que de repente centraliza tanto poder de decisão, tantos desafios, porque por trás do trabalho dele são dezenas, centenas e talvez milhões de leitores dos livros da Mercado Aberto, e outros: livreiros e integrantes da nossa Câmara do Livro, participam no ano de suas atividades. Todo esse envolvimento e decisões que, às vezes, são difíceis de serem tomadas, num País que nunca sabe exatamente o que faz com as suas regras políticas, econômicas, financeiras e de administração, manter fundamentalmente a ética, o respeito pelo próximo, um jogo absolutamente limpo, a capacidade de administrar, sabendo encontrar o bom senso e o equilíbrio entre interesses diferenciados. Todos nós que temos convivido com o Roque admiramos, ao lado disso, uma outra coisa extremamente importante, a sua capacidade de dialogar, conversar, ouvir e buscar respostas, até se antecipando em formular os desafios, as perguntas e as indagações. Eu ficava me perguntando que tipo de imagem se poderia ter em torno do papel e da figura do Roque, e me dei conta de que ele tem, na sala da Mercado Aberto, talvez a maioria de vocês já conhece, todo um armário todo cheio de bibelôs, representando a imagem da coruja nas poses mais diferentes possíveis. Eu não sei quantas mais deve ser mais de uma centena, eu pelo menos já contribui com algumas e certamente alguém já trouxe aqui alguma coruja para o Roque. É a coleção do Roque. Eu me dei conta que a imagem da coruja, certamente, não sei se foi o astral, se foi alguém que sugeriu para o Roque, se foi uma decisão pessoal, isso ele pode contar depois no seu discurso aqui com as histórias de pescador que o Roque deve ter de monte para relatar para todos nós; peixes de vinte metros de comprimento, 200 quilos de peso, que volta e meia ele vem trazendo em suas viagens. Mas, enfim, eu me dei conta que a imagem da coruja é a síntese do nosso homenageado. Da coruja nós costumamos lembrar, sobretudo, a sabedoria. Mas a sabedoria não existe se não estiver acompanhada de outra coisa fundamental que é a humildade. E, quantas vezes, os nossos editores e livreiros vão lembrar disso muito bem, quando o Roque quer sugerir alguma coisa ele não manobra dentro do grupo até que alguém sugira por ele essa coisa e ele acaba topando muito agradecido. E a idéia vinga sem que ele imponha qualquer problema. Ao lado da sabedoria e a humildade vem a capacidade de iniciativa. Porque todos nós sabemos que a verdadeira liderança não é aquela que apenas gera idéias, que comanda gestos ou ações, que é capaz de ter alguma iniciativa, mas, sobretudo, quem é capaz de articular um grupo que realize estas coisas. Esta capacidade o Roque tem. E tem porque me parece que, sobretudo, ele tem a amizade com um pólo permanente de preocupação e, fundamentalmente, ele tem o sentimento do dever e do respeito em torno da comunidade. Se tem uma coisa que nós podemos definir no sucesso do Roque Jacoby é definir a perspectiva preocupação com a comunidade. Dezenas de vezes eu conversei com o Roque, ou sobre política, ou sobre a Editora, sobre a Câmara, sobre Porto Alegre, sobre tantas coisas em que não entrasse a preocupação do Roque: “Mas será que isso vale a pena para o público, para a Cidade, para as pessoas, para a comunidade?” Essa é sempre a questão que ele coloca em todas as suas iniciativas.

Ainda há pouco um Vereador desta Casa, o Ver. Dilamar Machado, produziu os originais de uma crônica muito interessante sobre um período desta Cidade. Quando eu tive oportunidade de ler esses originais resolvi que ia levar esse texto para exame do Roque e eventual publicação, que de fato se deu na Feira. O Roque não apenas aceitou a publicação, como se entusiasmou com a idéia de poder, imediatamente, juntar esse texto com outros já programados do Liberato Vieira da Cunha, que nós homenageamos, há poucos dias aqui na Casa, do Walter Galvani, que tem todo um conjunto de histórias em torno de Canoas e Porto Alegre. Imediatamente, saiu aquela imagem maravilhosa ligada a Porto Alegre, de “Porto Alegre está em Obra”, com que ele juntava imediatamente todo um apoio que ele tem dado, permanentemente, à atual Administração, confiança que ele tem traduzido nesta Administração, e, ao mesmo tempo, vincular claramente a idéia de lançamentos literários, como também uma intervenção na paisagem urbana da Cidade. Que não fosse apenas uma coisa destituída de significado geral e comunitário, definida apenas para os escritores, intelectuais, para alguns freqüentadores da Praça, mas que fosse uma coisa que tivesse em Porto Alegre e nada melhor, sem dúvida nenhuma, do que um out-door e uma boa campanha para alcançar isso. Mas acho que esse tipo de iniciativa define muito bem a figura do Roque Jacoby. É por isso, Roque, que hoje, nesta homenagem, e porque acho que me deste uma indireta noutro dia quando me contaste que ao receber seu terceiro prêmio deste ano, ao agradecer falaste meio minuto e eu já estou falando a cinco minutos, quero encerrar esta breve saudação dizendo da minha alegria e da minha emoção por ter proposto esta homenagem em nome da cidade de Porto Alegre, aprovada pelo conjunto dos pares desta Casa, ratificado pelo Prefeito Tarso Genro, hoje aqui representado pelo companheiro Raul Pont, no sentido de que estamos homenageando um homem que veio de fora de Porto Alegre, que se tornou um gaúcho honorário, conforme definimos há pouco tempo, através da homenagem da RBS, que agora foi Destaque Empresarial de 93 e que, a partir de hoje, é, também, Cidadão da cidade de Porto Alegre. Pelo seu carinho, pela sua humildade, pela sua sabedoria, pelo seu sentido comunitário, por essa amizade, pela ética, eu quero te saudar, Roque, porque mais do que apenas um amigo, mais do que um editor, mais do que um empreendedor, és como um irmão, um irmão de luta, um irmão de crença na literatura, no livro e na idéia básica de que vale a pena a gente brigar por esta Cidade. Bem-vindo a Porto Alegre; bem-vindo, realmente, a mais esse conjunto de cidadãos da nossa Cidade que um dia vieram de muito longe e que escolheram esta Cidade-Sorriso para aqui permanecer. Muito obrigado pela oportunidade. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para satisfação desta Casa registramos a presença da Sra Ciça, esposa do nosso homenageado; da Rafaela, filha; do Prof. Flávio Loureiro Chaves, representante do Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; do Sr. Flávio Azevedo, que representa o Secretário Municipal da Cultura; Jornalista Firmino Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa; Sr. Flávio Ledur, Presidente do Instituto Estadual do Livro; Prof. Jairo Bestetti, Coordenador do Setor do Livro da Secretaria do Estado da Educação; Frei Rovílio Costa, da Escola Superior de Teologia; Sr. Júlio Zanatta, atual Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro; Profª Vera Aguiar do Instituto de Letras da PUC.

O próximo orador falará em nome da Bancada do PT e em nome da Câmara Municipal. O Ver. João Motta está com a palavra.

 

O SR. JOÃO MOTTA: (Menciona os componentes da Mesa.) Sentimo-nos muito honrados em poder, neste momento, fazer esta saudação em nome da Bancada do PT a este ilustre cidadão de Porto Alegre. Teríamos para justificar este momento, sem dúvida nenhuma, talvez, dezenas de argumentos. Preferimos, apenas, fazer uma síntese daquilo que, na nossa opinião, é a trajetória fundamental dessa cidadania. Talvez o Henfil tivesse razão, e nós, ainda até hoje, para vergonha nossa, não tenhamos visto que o afirmado pelo Henfil fosse um preceito elementar para a constituição de qualquer cidadania. Dizia o Henfil que não havia cidadania no Brasil enquanto o direito à informação não fosse garantido a todo o povo e à sociedade brasileira. Diria mais do que isso, exagerando um pouco aquilo que afirmou Henfil: que, se num primeiro momento, Henfil afirmou isso, eu diria que para se viabilizar isso, muitas pessoas se tornam e se tornariam indispensáveis. Portanto, quando discutimos hoje, por exemplo, a necessidade de envolvermos os produtores culturais nas discussões sobre elaborações acerca de políticas culturais, eu diria que também nesse mesmo momento, estaríamos, mais uma vez, tornando indispensável à existência de outras personalidades e outras autorias. Portanto, no exemplo dessa afirmação do Henfil, bem como no segundo exemplo da afirmação da produção cultural, eu associaria uma terceira afirmação em que a existência de determinadas autorias se torna indispensável. Ou seja: como falar da Feira do Livro de Porto Alegre, sem falar de uma determinada autoria? Em síntese, temos a opinião de que é impossível falar na informação, na produção cultural, na Feira do Livro, pelo menos no que diz respeito a Porto Alegre, sem falar na existência desse cidadão que estamos hoje homenageando, o prezado e ilustre Roque Jacoby.

Portanto, neste momento, gostaríamos apenas de, em breves palavras, deixarmos um testemunho da Bancada do PT sobre esta convicção: é impossível falarmos do direito à informação, da cultura do Rio Grande do Sul, da Feira do Livro, de uma nova cidadania, sem reconhecermos e homenagearmos esse tipo de cidadania, simbolicamente expressa na figura desse grande cidadão, reconhecido e respeitado por todos nós, prezado e ilustre amigo Roque Jacoby. O nosso abraço e a nossa saudação. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos as presenças do Sr. Julian Murguya, Presidente do Instituto Nacional do Livro do Uruguai; do Sr. Dilan Camargo, Presidente da Associação Gaúcha de Escritores.

Passaremos ao momento mais solene, o momento da entrega, outorga, por parte do Sr. Prefeito Municipal, o título de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Roque Jacoby. Pediria ao Ver. Antonio Hohlfeldt, à Ciça e à Rafaela que viessem auxiliar a mim e ao Sr. Prefeito nesta tarefa.

Agora, todos em pé homenagearão com a Mesa.

 

(O Sr. Prefeito procede à entrega do título.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Exmo Sr. Prefeito Municipal, em exercício, Dr. Raul Pont.

 

O SR. RAUL PONT: (Menciona os componentes da Mesa.) Senhoras e senhores representantes das variadas entidades que estão aqui solidárias com esta homenagem, editores, professores responsáveis por Órgãos Públicos ligados à cultura, familiares do Roque. É com grande satisfação e com muito orgulho que nós, o Poder Executivo, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, está aqui solidária a esta iniciativa da Câmara, através do Ver. Antonio Hohlfeldt, prestando esta homenagem ao Roque. Sabemos que é extremamente difícil exercer uma atividade empresarial na área cultural, na área de editoração, na produção de cultura num País onde quase tudo tem uma tendência ao consumismo fácil e à “coisificação”. Manter uma atividade empresarial nesta área e, ao mesmo tempo, manter a qualidade, a preocupação ética e todos aqueles elementos que já foram aqui citados nesta homenagem prestada ao Roque, é extremamente difícil. Esses são elementos que justificariam, por si só, esta homenagem que fazemos neste momento.

Estamos adotando mais um cidadão para a nossa Cidade, o que nos traz muita alegria e muita satisfação, porque é um reconhecimento, por parte do Poder Municipal, de ações de parceria que temos realizado, seja na Feira do Livro, na Feira do Material Escolar ou em outras ações conjuntas que realizamos com as empresas do Roque, através do Poder Público.

Em meu nome, em nome do companheiro Tarso Genro, que hoje se encontra em Brasília tratando das questões do Município, em nome da Administração e, seguramente, em nome da população de Porto Alegre fazer com que esta homenagem seja muito mais ampla; um verdadeiro abraço dos porto-alegrenses, agradecidos pelo trabalho que o Roque vem realizando na nossa Cidade como empresário e como um homem defensor da cultura, da editoração e de questões que são fundamentais para que Porto Alegre mantenha esse papel de vanguarda na vida cultural do País.

Antes de uma homenagem, isto é o reconhecimento pelas virtudes e pelo trabalho realizado pelo Roque. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Temos a honra de conceder a palavra ao mais novo Cidadão de Porto Alegre que leva para esta tribuna uma responsabilidade maior na medida em que os representantes do povo desta Cidade, viram no trabalho o reconhecimento daquilo que foi projetado, realizado por este cidadão. É importante a Cidade recebê-lo, é importante a Cidade tê-lo como cidadão. A Cidade, se é que isso é possível, vai exigir um pouco mais do novo cidadão, mais dedicação, mais esforço. Ele será mais uma luz, mais um guia para a população, dentre a galeria daqueles Cidadãos Eméritos, daqueles cidadãos de Porto Alegre. É nessa condição que concedo a palavra ao Sr. Roque Jacoby, Cidadão de Porto Alegre.

 

O SR. ROQUE JACOBY: Eu estou em casa, uma boa tarde, só vejo pessoas de faces conhecidas, amigas, poderia citar, acredito eu, um a um, alguns eu não estou reconhecendo, mas eu tenho certeza de que todos aqui presentes têm algo em comum, que é a amizade e o respeito. Caro João Gilberto, caro Wilton, caro Raul Pont, caro Gutmann, Antoninho, todos aqui presentes. Amigos, em 1964, quando pela primeira vez estive em Porto Alegre, vim a passeio e confesso que me encantei pela Cidade - não pelos edifícios, pelo movimento, pelas praças ou pelas obras de arte e nem pelas pessoas, porque não tive oportunidade de conhecê-las - mas me encantei com os peixes. Podem não acreditar, mas vi no cais do Porto, em plena manhã - isso em 1964 - no início da Borges, um número expressivo de pessoas pescando e pescando piavas bonitas de meio quilo, mais ou menos, e como jamais vira na longínqua Tangará, em Santa Catarina, no Rio do Peixe. Realmente, fiquei encantado, aquilo me marcou. E o tempo foi passando. Do Seminário dos Redentoristas de Passo Fundo, em 1967, fui a São Paulo e, após meio ano de Filosofia, resolvi mudar de rumo, saí do seminário e comecei a trabalhar como auxiliar de balconista numa livraria Alemã, a Editora Herder. E, morando numa pensão, com a família dispersa pelo mundo, porque mamãe na época estava em Roma, e os meus irmãos cada um em Estados diferentes, eu solito no más, sem grana no bolso, mas com uma coragem e uma força interior - garanto - capaz de remover montanhas. No trabalho, após seis meses, fui promovido a revisor e tradutor e, dois anos depois, fui convidado a trabalhar numa editora, bem menor e bem menos conhecida, que era a Ática. Eram tempos políticos difíceis, anos de 69, 70 e 71, e como estudante da turma da noite da Faculdade de Sociologia e Política, eu vivia aos sobressaltos e foi quando me surgiu um convite muito oportuno. Há dois anos eu já trabalhava como divulgador e vendedor na própria Ática e já estava na área comercial, quando me forem apresentadas duas opções: “Roque, poderás ir ao Rio de Janeiro ou a Porto Alegre para abrir uma filial. Podes fazer a opção”. Lembrei-me de Porto Alegre e das piavas; lembrei-me dos colegas de Passo Fundo; lembrei-me das diferenças da formação social e cultural do povo do Rio Grande. Lembrei-me também, da disposição dos gaúchos para o trabalho. E lembrei-me, também, da graça e da beleza das mulheres gaúchas e da estratégica distância entre São Paulo e Porto Alegre. Pois imaginei que, no Rio de Janeiro, a interferência da matriz, na ocasião, seria constante. Lembrei-me de tudo isso e decidi. Aos prantos, literalmente aos prantos, deixei aquela cidade que me acolhera e um sem número de grandes amigos que lá ficavam e me vim a Porto Alegre. Vida nova, novo ambiente, muito trabalho e viagens, viagens pelo interior, contínuas, cadastrando escolas, conhecendo professores, visitando livrarias. Um apaixonante trabalho que realmente me agradou muito, me estimulou muito exatamente pelo ambiente onde eu trabalhava.

Bem, minha trajetória pessoal e profissional, acredito eu, a maioria dos amigos já conhece. Então, eu gostaria apenas de frisar, o que me chama realmente atenção foi e está sendo o acerto na decisão de vir para Porto Alegre. Os argumentos iniciais se confirmam um a um. Eu logo conheci a graça e a beleza da mulher gaúcha. Casei com Ciça, essa mulher encantadora que me acompanha nos bons e maus momentos e que junto com Rafaela, filha mimosa, com quem divido esta homenagem, ambas me trazem constantes alegrias e, a elas, o meu agradecimento muito sincero por me aturarem.

A estratégica distância entre São Paulo e Porto Alegre possibilitou-me abrir meus próprios negócios. E a disposição dos gaúchos para o trabalho permitiu-me a consolidação das excelentes equipes de profissionais que sempre me acompanharam, encabeçadas pelos meus sócios Fioravante e Luís, que sempre me apoiaram nas iniciativas empreendedoras propostas. Por outro lado, as peculiaridades da formação cultural e social do povo do Rio Grande levaram-me a um convívio muito estreito com os escritores, livreiros, com toda a comunidade cultural, não só de Porto Alegre como de todo o Estado e, para cujo desenvolvimento, eu tenho tentado contribuir na medida das minhas forças. E assim, na minha trajetória, essa minha trajetória sempre foi marcada exatamente pela convivência com pessoas das mais diferentes atividades. Os colegas de Passo Fundo, vejo aqui um, Valdir Valquedro; os colegas da Economia da PUC, vejo alguns; o nosso querido Professor Wilmon, que não vejo nesse instante; os meus companheiros do Clube de Pesca Capivari 5; os amigos que “Quiquiera”; os amigos da Câmara Rio-Grandense do Livro, onde tantas coisas tivemos condições de fazer em conjunto; os companheiros e colegas de pós-graduação da Unisinos e do Conselho Estadual de Cultura; os meus ex-companheiros do Conselho Regional de Economia; os colegas do CDL, da Federasul, todos os familiares, vizinhos, tanto de praia como do meu sítio “Te Arremanga e Vem”, de Arroio dos Ratos, os meus vizinhos daqui, os meus amigos de outros países, o Julian aqui representa. Os autores, essas ricas pessoas que, diariamente ou anualmente, dependendo da sua produção ou da sua predisposição, elas enriquecem a todos nós e sabem conviver com a gente. As pessoas que trabalham comigo e trabalharam, esses companheiros que, com certeza, teremos belíssimos trabalhos pela frente no sentido de melhorarmos o quadro da nossa situação política no País. Tudo, todos aqui presentes, de uma forma ou outra. Peço desculpas se não mencionei alguma particularidade, porque não é objetivo, mas faço questão de dizer que todos são a minha história, todos fazem parte da minha história e da minha vida. Gratíssimo pela convivência.

Sensibilizado, portanto, pela homenagem e pelo carinho de que fui e estou sendo alvo ao receber, este ano, os troféus, tanto de Gaúcho Honorário, quanto de Destaque Empresarial, uma menção especial feita pela Federasul, na Feira do Livro, e agora o título de Cidadão de Porto Alegre, concebido, respectivamente, pela Rede Brasil Sul, pela Federasul e pela Câmara Municipal de Porto Alegre, por um Projeto do nosso querido amigo Antonio Hohlfeldt, e aprovado pela Casa, eu venho em meu nome e de minha família, em nome da Câmara Rio-Grandense do Livro externar os meus agradecimentos, e não só às instituições, como também a todos aqueles com quem convivi ao longo desses 22 anos, e com os quais eu gostaria e desejo dividir este momento de emoção e de alegria.

Ciente da obrigação, conforme o Wilton falou, de retribuir tais homenagens, e esperando fazê-las de acordo com as minhas limitações, minhas forças e de acordo até, com as colaborações, eu fico na esperança de que meus netos, se a Rafaela concordar e contribuir, um dia consigam pescar piavas no Guaíba, muitíssimo obrigado, no sentido original da expressão.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Depois das belíssimas palavras do nosso novo Cidadão, emocionadas, diretas, resta à Câmara Municipal, até com pesar, encerrar uma Sessão tão bonita, que representa tanto para a Cidade. Agradecemos a todos os senhores pelas presenças, a todos aqueles que ajudaram nessa belíssima trajetória e que irão continuar colaborando com a cidade de Porto Alegre para fazermos dela a melhor Cidade para se viver e até, quem sabe, pescar piavas. Tenho a certeza de que os governos do Estado e do Município estão aliados para devolver a Porto Alegre o seu rio.

Agora, em nome do nosso homenageado, faço um convite para que todos se façam presentes, logo após o termino desta Sessão, ao Caixeiro dos Viajantes, para um coquetel, a fim de confraternizarmos e abraçarmos o homenageado, o novo Cidadão de Porto Alegre.

Agradecemos ao Sr. Governador, ao Sr. Prefeito, ao Sr. Cônsul, enfim, a todos os senhores que vieram até aqui e queremos dizer que a Câmara Municipal sente-se honrada com a presença de todos, mas não só em dias de homenagem, pois gostaríamos que os senhores se integrassem no cotidiano, no dia-a-dia do Parlamento da Cidade em que vivem. Dessa participação diária é que a Câmara poderá sentir e responder a todos os anseios da população.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h17min.)

 

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